quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Ao Meu Amor

Será que elas sabem que quando você goza é comigo que você está? Que os beijos foram pra mim a cada gota de suor? Será que sabem que nos seus silêncios é comigo que você conversa. E na hora dos seus mistérios, estamos de mãos dadas? Que sou eu a Dulcinéia que te acompanha nas lutas quixotescas contra os moinhos de vento de suas fantasias, elas sabem? E elas sabem que você é um caipira turrão, osso duro de roer? Não bobo, isso elas não sabem por que você não entrega o ouro tão cedo, aliás, melhor contar que você não entrega o ouro nunca. E você sabe que eu nem consigo deitar com outro, porque meu corpo grita Não, e me chama de vagabunda? Tem um buraco que fica entre os dois peitos, um plexo, que apesar de solar, deveriam chamar pluvial. Pois ali me entra cada coisa. Outro dia entrou o mar inteiro, subiu até a garganta, apretou tudo, e está lá- não quer sair.

Vou te mandar um pouco Cabe aí, ou você continua empanturrado pela terra toda que engoliu para não morrer de fome da falta de mim? Até quando será, vida minha, que o destino espera a gente se cansar de andar em círculos? Será que ele vai ter uma paciência infinita com essa mania de a gente se amar de longe? Ou um dia ele vai puxar-nos pelas orelhas, botar-nos juntos e dizer: ”Acabou o Tom e Jerry. Estão perdendo muito mais do que jamais vão encontrar. Um olhando para o outro, já! Viram? E tocados pela varinha do cosmos nós saberemos que era ali que sempre quisemos estar. Você fará um abrigo para o nosso amor. To até vendo, ficou bonito, agora sim, você sempre teve bom gosto?

Eu te puxo pra rede, faço um cafuné sem fim e conto histórias pra gente dormir. Ai que bom... já pensou o cansaço que vai bater quando finalmente a gente parar com isso? Ah, só assim você vai perceber e contar pr’alguma delas que pensa em mim todos os dias, e que há dias em que pensa sem parar? Perturba? Você vai ver. A gente não consegue fazer as coisas, tocar o barco. Nem fingir direito que gosta de outro dá. Eu acordo todos os dias tomada por você. E ando acordando de madrugada. Você parece que pula em cima de mim,e eu dou aquele salto e pronto, é risada, conversa fiada, lágrimas, de um tudo, mas nada de dormir de novo. Você não deixa. Depois passo o dia bocejando e não tem como explicar, vou dizer o quê?

Passei a noite com o meu amor que não estava comigo por que... Por quê? Outro dia eu acordei querendo morrer de saudade. Tive palpitações, era grave, liguei pro médico. “Doutor, estou sofrendo de amor, não paro de chorar, meu coração vai sair por esse buraco entre os meus peitos, e agora não é uma boa hora pr’eu morrer. Tenho sete disciplinas pra estudar nesse período, tenho artigos pra escrever, tenho que trabalhar, tenho dois bebês: meu sobrinho e minha mãe pra cuidar, socorro, preciso de um remédio poderoso! Ele me conhece bem, fez a receita na hora. “Vou te passar porque num momento de apuro, evita uma ida ao médico. Parta pra outra! Jamais a encheria de pílulas. Isso passa. Muito mais depressa do que você imagina. Volte para sua Ioga e ouça músicas clássicas.

 Já ouviu Sonata? Tão romântico’’. Onde eu estava? Ah sim, Sonata é para insônia. Porque desculpe mas eu tive que contar pra ele que você não me deixa dormir. Você viu? Ele falou pr’eu te mandar embora. Mas eu já fiz isso, nós sabemos quantas vezes não é? E você não vai. Quando vai, não sai de dentro de mim do mesmo jeito, entranhou, é praga da vida. Ai que praga boa... Boa nada, imagine eu, super controlada, tendo que me entupir de comprimidos, francamente! Ainda bem que o meu médico é são. Sabe o que o meu sobrinho me falou? Ele que me adora, sempre gostou desde neném, sabia? Outro dia me vendo triste ele perguntou, “Su, porque você fica com quem te faz sofrer assim? Ele só tem oito anos!’’ E eu, “ Porque acho que quando vale a pena a gente tem que fazer tudo, tudo o que for possível pra dar certo.”

Passou-se algum tempo.

“Você fez tudo o que podia?”

“Acho que sim.”

“Então presta atenção, da próxima vez que ele cruzar a sua mente, você pensa, “que bom que eu me livrei desse cara!”

Não sei de onde ele tira essas idéias. Acho que a convivência comigo, aos oito anos puxa! Mas é que ele não agüenta me ver sofrer por tanta contradição. “Não faça com o Adriano a mesma coisa que você faz com os outros!”. Podia ser simples. Na minha outra história, quase deu certo, o quase que me mata. Até o João aqui da esquina dorme na calçada agarrado com a sua Maria.

O Cristian tem razão, podia ser bem mais simples. Mas e aí... pra quem eu iria escrever esta carta? Repleta de sim’s categóricos.

Suely Carvalho

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