domingo, 18 de outubro de 2009

Religião faz mal à saude?

Ciência ou religião? Não me diga que você já está entediado com essa discussão.
Os trabalhos clássicos de dois fundadores da Sociologia, Émile Durkheim e Max Webber, que no início do século XX, ofereceram explicações sobre como, nas várias partes do mundo, as religiões modelam pelas sociedades nas quais estão inseridas e, com isso, sugerem que a religião seja uma forma de nos proteger contra as doenças.

O foco crescente sobre o individualismo, no mundo ocidental, desde que Durkheim escreveu que “Deus é a sociedade, num sentido amplo”, pode ser percebido no atual entusiasmo sobre o estudo cerebral de mapeamentos religiosos, Neuroteologia: tentativas de mapear e relacionar experiências religiosas com a atividade cerebral e uma predisposição genética para certos estados mentais.

Esse estudo, liderado por Corey Fincher da Universidade de Albuquerque do Novo México, podem em nos dizer por que algumas pessoas têm tendências religiosas, mas esclarecem muito pouco por que essa predisposição resulta em um número pequeno de religiões institucionalizadas. De modo semelhante, os militantes, os ateus militantes que rangem os seus dentes diante da absoluta irracionalidade da crença religiosa, estão fadados a fazê-lo para sempre, a menos que aceitem o ponto de vista de Durkheim de que, em vez de estar com algum vírus mental que se propaga através das culturas, a religião possui capital social e, por conseguinte, um possível valor adaptativo.

Existem ainda aqueles grupos coesos que rejeitam os que não pertencem ao seu grupo e, isso é tão verdadeiro para a religião quanto para qualquer tipo de associação. Para Fincher, algumas sociedades podem se beneficiar da visão limitadora da religião, evitar doenças.

Quanto mais uma sociedade se dispersa e se mistura com outros grupos, maior é o risco de se contraírem doenças- em outras palavras, estranhos fazem mal à saúde. A psicologia da xenofobia e do etnocentrismo está relacionada de maneira significativa ao ato de evitar doenças infecciosas.

Ele demonstrou também que a diversidade de linguagem dentro de uma sociedade, por exemplo, parece se correlacionar com a diversidade de doenças infecciosas, sugerindo que diferenças lingüísticas são uma manifestação das estratégias para evitar doenças.

Nesse trabalho, ele descobriu que há uma maior diversidade religiosa em regiões do mundo onde é mais alto o risco de se contrair algo sério de pessoas estranhas ao grupo (que provavelmente apresentam padrões diferentes de imunidade).

Curiosidade: Foram estudadas 339 sociedades da África, Ásia, América E Austrália e descobriram que as pessoas que vivem em áreas de maior diversidade de doenças infecciosas (e, portanto, com um risco mais alto de contágio por estranhos) tendem a ter menores “variações sociais”: na média essas pessoas vivem a sua vida em áreas de menor extensão. E populações com menores variações sociais apresentavam maior diversidade religiosa.

Ainda que seja uma observação curiosa, é muito difícil separar causa e efeito. Qualquer pessoa poderia argumentar que o contato com outros grupos sociais impede alguns traços culturais à custa de outros, e, portanto, mantém uma diversidade que tende a surgir em qualquer outro lugar.

A teoria de Fincher apenas ratifica a mera função da religião de manter separados “os que pertencem ao grupo” daqueles que “não pertencem”. Comparados com outros indicadores “intragrupais”, tais como nomes de família, ou estilos de arte e música, a religião é um meio grotesco de alto custo social, quando se trata de separar amigos de supostos inimigos. Os seres humanos são muito competentes em identificar mínimos sinais de diferenças.

Moral da história: está muito longe de ser uma teoria de como e por que as religiões surgem e se difundem. No entanto, ela sugere que há influencias biológicas escondidas na dinâmica da diversificação cultural. É também uma advertência útil de que a religião não é tanto uma questão de crença pessoal, mas, nas palavras de Durkheim, ela é muito mais “um fato social”.

Um comentário:

  1. aaah. sou suspeito pra falar. Lembrei-me de um filme que acabei de assistir que tem uma expressão interessante: "ciência e religião". É uma guerra para dizer quem comanda? De um lado, a ciência dizendo que religião é besteira e, do outro, a religião dizendo que ciência é "blasfêmia". Pensando bem é uma questão sem fim e achei tão interessante o que Fincher falou. Agora tudo é predisposição. ahsuhauhsuas. É interessante como a mente é tão complexa pra entender, tenta-se manipulá-la com estudos. Não defendo religião, mas acredito que fé é tudo e uma coisa em que a ciência concorda é que a fé é superior a qualquer coisa. Religião é uma coisa que o homem (digo sociedade) criou, assim como as tradições e os dogmas. Acabar com isso em nossa sociedade, seria destruir um edifício com uma agulha. Entender como surge e se difunde uma religião é algo que pode ser complexo. É questão para se pensar melhor...
    Bjos Su

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