quinta-feira, 11 de março de 2010

Como amar pessoas difíceis.

Todos nós, dia menos dia menos dia, esbarramos com alguém que nos tira do sério. Uma pessoa realmente difícil. Não falo dos “casca-dura” usuais que cruzam o nossos caminhos e depois desaparecem, como motoristas mal-humorados ou entregadores grosseiros. Refiro-me aos que nos enlouquecem, pisam em nossos calos, mas que não podemos ignorar tampouco evitar, como colegas de trabalho, vizinhos ou parentes. Pode até serem personalidades que explodem sua raiva em nós. O terrorismo psicológico que ocorre com essas pessoas como “gritaria”. Quando o discurso racional fracassa- o que geralmente acontece, pois afinal essa é uma pessoa difícil-, as vozes se elevam e o conflito se intensifica. Para isso pode haver três possíveis desfechos para o jogo:

A) Você sai do recinto e bate a porta.
B) A pessoa difícil sai e bate a porta.
C) Ambas saem e batem a porta.

De qualquer modo, o jogo da “gritaria” sempre culmina com a pobre da porta batendo.
Em vez de tentar mudar a outra pessoa, deveríamos ter cuidado para não entrar no jogo dela. Não interpretar a beligerância como um ataque pessoal e não entrar na reação de “lutar -ou- fugir” que é totalmente animalesco. Manter o equilíbrio mental até mesmo nas situações mais conflitantes, sem responder reativamente a chantagens emocionais; aprece impossível, mas não é. Poderemos ouvir calma e atentamente, sem entrar no ringue para nos defender
Li uma história do folclore coreano escrita por Susan Andrews que mostra muito bem isso.
Uma jovem mulher, Yuan ok, foi até o célebre monge da montanha.
- Oh respeitável sábio – disse ela. – Estou em dificuldades! Faça-me uma poção.
- Tudo bem! – disse o sábio. – Qual é a sua história?
- É meu marido. Nos últimos anos, ele esteve ausente, lutando numa guerra. Agora que voltou quase não fala comigo.
Se falo, ele parece não ouvir. Quando abre a boca para falar, é rude e grosseiro.. Se lhe sirvo, ele não gosta; empurra o prato para o lado e sai da mesa, raivoso. Preciso de uma poção para que ele volte a ser amoroso e carinhoso!
O sábio respondeu:
- Tenho a receita, mas o ingrediente essencial é o bigode de um tigre vivo.
-O bigode de um tigre vivo! – disse a moça. – Como vou conseguir isso?
- Se a poção for realmente importante para você, então você terá êxito. – respondeu o monge.
A moça foi para casa. Naquela noite, enquanto o marido dormia, saiu furtivamente com uma tigela de arroz e um naco de carne. Chegou a uma prudente distância da caverna de um tigre, estendeu a comida e o chamou para comer. O tigre não veio. Na noite seguinte, fez a mesma coisa, desta vez mais perto da caverna. De novo, nada aconteceu. Todas as noites ela ia à caverna. Cada vez se aproximando mais. Pouco a pouco, o tigre acostumou-se com ela.
Certa noite chegou a distancia da qual se poderia atirar uma pedra na caverna e parou. A moça e o tigre fitaram-se a luz da lua.
Na noite seguinte, ela se aproximou ainda mais, a ponto de estar tão próxima que poderia falar com o tigre com uma voz muito suave. Pouco depois, o tigre comeu a comida oferecida.


Na outra noite, o tigre a esperava. Depois que ele comeu, ela passou a mão sobre a sua cabeça, e ele começou a ronronar. Seis meses haviam se passado desde a noite da primeira visita. Finalmente, depois de tê-lo acariciado na cabeça, ela disse: “Ó generoso tigre, preciso de um de seus bigodes. Por favor, não se zangue comigo!”. E ela cortou um de seus bigodes. O tigre não se zangou, e a lambeu. Ela correu em disparada pela trilha, com o bigode nas mãos. Exultante, chegou à caverna do eremita: “Ó grande sábio, consegui o bigode do tigre! Agora você pode fazer a poção mágica!” O sábio examinou o bigode, cuidadosamente, satisfeito porque era mesmo de tigre, e jogou-o na fogueira.
- O que você fez? – gritou a moça. – Depois de todo o esforço que eu fiz para pegar o bigode.
- Conte-me como você o conseguiu. – disse o sábio.
- Todas as noites, eu ia à caverna do tigre com uma tigela de comida, para ganhar sua confiança. Falava docemente com ele, para fazê-lo compreender que só queria o seu bem. Fui paciente. Cada noite levava comida sabendo que ele não comeria, mas não desisti. Nunca falei asperamente, nem o censurei. Finalmente, numa noite, ele andou alguns passos em minha direção. Nas noites seguintes, ele já estava me esperando na trilha e comia da tigela. Passei a mão em sua cabeça, e ele começou a ronronar. Foi aí que consegui cortar o bigode dele.
Você domesticou o tigre com sua persistência e o seu amor. – disse o sábio.
- Mas você jogou o bigode do tigre ao fogo! Foi tudo a troco de nada! – lamentou-se ela.
- Não, não foi tudo a troco de nada. Você não precisa mais do bigode. Será que o seu marido é mais feroz que um tigre? Será que ele é menos sensível ao carinho e a compreensão? Se você é capaz de ganhar a confiança de um animal selvagem e sedento de sangue com suavidade e paciência, certamente poderá fazer o mesmo com o seu marido!
Yuan Ok permaneceu emudecida por alguns momentos.
Então voltou pela trilha, refletindo sobre a grande verdade que havia aprendido do sábio da montanha.
O segredo para amar pessoas difíceis é não morder a isca da negatividade delas e deixar que elas mordam sua isca de um coração empático e cheio de amor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário