quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Sinceramente

Eu sou o desconhecido! Iniciei em minha vida uma nova aventura. Reconheci que uma boa história havia se encerrado e incumbi a mim a mim o desejo de começar outra. Estou me desconhecendo. Hoje, não basta saber quem eu sou. É preciso também saber quem eu não sou. Para, então, saber quem eu posso ser.


Estou vivendo um momento de vazio. O que descubro é que para manter algo de mim no vazio fui capaz de olhar para tudo com estranhamento para que eu pudesse enxergar possibilidades que um olhar viciado tornaria invisíveis. É preciso ter coragem de se manter sem saber quem é por um tempo, para poder então descobrir o que quer fazer com seu desejo.


Descobri também que deveria fechar algumas portas- e não mais abri-las. Quando quase tudo está em aberto, é preciso ser muito seletivo em relação às portas. O que eu quero o que eu não quero. O que é importante, o que não é importante. As pessoas com quem vale à pena compartilhar projetos, as que não quero manter perto de mim. O que me leva a algum lugar novo ou a alguma forma nova de ver o mesmo lugar, o que me trás de volta ao mesmo ponto.


Descobri ainda que é preciso resistir também às certezas que as pessoas têm sobre nós. Há gente de todo tipo. E alguns ficam muito desorientados se a gente muda, se qualquer coisa ao redor deles muda.
Fechar portas é também virar as costas para quem exige que sejamos sempre os mesmos para sua própria comodidade. Descobrir as outras possibilidades do que sou é neste momento minha maior tarefa. Este é o momento da minha vida que é apenas um momento que também deve ser superado para que outros possam vir, já que não me interessa sair de um escaninho para cair em outro. Mas que me tornará melhor do que eu pude ser antes de construir a chance de viver a verdade dessa busca.


Dizer que sou isso ou aquilo me torna imutável e, portanto, morta. A verdade é que eu não tenho idéia de quem eu sou. Ótimo! Estou começando a me conhecer, para me perder logo adiante. Afinal, para que mais serve a vida?

Mudança!

Quase todos nós temos algo que gostaríamos de ter feito. E não fizemos. Um plano mirabolante que tinha tudo para dar certo, mas que nunca tentamos. Aquelas idéias que parecem ótimas na mesa de bar e, como ratos sorrateiros, escondem-se nos porões no primeiro raio de sol. Eu quero ter um café, uma livraria, uma livraria com café ou um café com livraria. Eu quero ser médica. A melhor médica. Tenho uma amiga que quer ser repórter. Outra que ser ter um consultório odonto - psicológico. Amigos que querem uma família de dez filhos.


Conheço um monte de gente que desejava fazer mais do que já ousou fazer, mas em algum momento deixou passar a chance de recosturar seus sonhos com o fio do possível. Preferiu se deixar convencer de que ser adulto era assumir uma idéia de responsabilidade que excluía a possibilidade de se reinventar a qualquer momento. E isso é real: pode não existir amor para sempre, nem vida para sempre, mas descobri que existe desistência para sempre.
Eu vivo esse dilema, já faz algum tempo. E resolvi escrever essa história porque tive a ousadia de reinventar a minha vida. Não aos 15, mas aos 25. Eu rejeito aquilo que chamo de vida de... E se?


E se eu tivesse feito isso e não aquilo? E se eu tivesse tido coragem? E se eu tivesse me divertido? E se eu tivesse sido mais corajosa? E se eu tivesse amado mais? E se? E se? E se? Não há nada mais triste do que uma vida de “e se”?
Manaus é uma cidade perfeita. E não foi a toa que o destino quis que eu nascesse aqui. Essa cidade oferece a qualquer um uma gama de oportunidades além de ser coberta por um colar que gruda na alma da gente. A cidade vai muito bem quando chove e faz sol na medida certa para o calor que gruda na alma da gente. A cidade vai muito bem quando chove e faz sol na medida certa para o calor humano. Ou seja, viver aqui depende do imponderável. Ouvi de muitas pessoas que era preciso sair daqui para viver melhor e ser feliz. Mas foi aqui, no calor dessa cidade que eu descobri que viver e ser feliz são uma fonte inesgotável de prazer. Acalme-se estou apenas situando o contexto onde eu comecei a salpicar os primeiros ingredientes de minha utopia.


Eu gosto de estar com pessoas, de ver gente, de movimento. Não é uma regra absoluta, mas quase. Para que tentar algum lugar novo se Manaus é garantia certa de diversão.
Quem vive uma vida medíocre, um dia quer mudar. Ou finge que quer. Deixar a construção de uma vida é uma espécie de jornada de herói. Não sei qual é a estatística mas a maioria não sai do lugar.
Apaixonei-me pelo curso de Letras desde a infância. Declarava pequenos trechos de Castro Alves à Machado de Assis. Meu irmão dizia que eu era a verdadeira pílula falante. Ensaiei uma faculdade de Letras quando chegou à hora, depois larguei- a. Aventurei-me a tentar medicina. Não foi possível. Voltei ao curso de Letras. E tudo isso me pareceu bom. Mas bom engloba tudo o que está na medida do possível. Nesse período, eu via muitos amigos olhando desconsolados para as ruínas de seus sonhos. Mas eu sabia que não estava entre eles. O deles parecia ser um destino resolvido.


Até que tive uma idéia. Deixei o curso de Letras para sempre. Falei com uns amigos. Arranjei um emprego e decidida a trabalhar na área da saúde, comecei um curso técnico de enfermagem.
Conciliei o trabalho com o curso técnico. Descobri que nos anos anteriores eu tinha vivido como um parasita. oE ainda mais, paralelo a isso voltei a me preparar para o vestibular de medicina. É tão bom, colocar os pés no chão, redescobrir que existe uma vida muito melhor. E em vez de ficar só sonhando, como a maioria faz, eu fiz.
O meu projeto era trabalhar em algo que me desse prazer. Investir no curso técnico e após o término do curso, me dedicar a faculdade de medicina, e assim unir o útil ao agradável. Simples assim.
Virar a vida pelo avesso. Eu tinha acabado de inventar um filme para botar dentro da minha vida. Não fiquei só falando ou lamentando uma vida que se estreitava. Alarguei meu mundo com as mãos, a cabeça e a força de um desejo que não deixei morrer. Uma vez fiquei pensando como teria sido cada noite, quando tudo podia dar errado.


O que poderia passar pela minha cabeça enquanto lecionava em uma escola que só me fazia mal.
Quanto medo eu tive. Nem mesmo dinheiro havia para esse investimento. E se eu não entedesse a linguagem médica. E se tivesse um chato que azedasse o meu ideal tão prematuro? Tudo podia acontecer. Até mesmo dar certo.
E deu. Quem comprou a idéia também queria uma ponta nesse filme. Minha família, como sempre, por trás de tudo o que eu faço. A felicidade para mim é um conceito global, ou existe felicidade para todos, ou não existe felicidade.
Tudo se tornou tão melhor. A minha cozinha, onde aos domingos a minha família se reúne se tornou tão cheia de aromas quanto de histórias. As conversas entre panelas e tomates, carnes. E a luz dourada do fim do dia atravessando o vidro da janela para pousar sem pressa na tampa das panelas.


Cada um se tornou melhor a partir desse dia em que a vida finalmente cumpria a si mesma. Al mondo é o nome do melhor de todos os sonhos, porque é um sonho que deixou de ser. Não por desistência, a causa mortis mais freqüente dos sonhos, mas por coragem.
Depois que tudo dá certo, parece fácil. Mas a vida de todos se decide é muitos meses antes, quando a gente não sabe se vai dar certo. E mesmo assim percebe que a coisa mais inteligente a fazer é botar a cabeça no lugar antes que seja tarde. Eu não me arrependo de nada. Nem mesmo de ter tirado a cabeça do lugar. Toda vez que o senso comum achou que eu estava destrambelhando fui parar num ponto interessante da vida.


Eu não sabia de nada, mas tive certeza que fiz tudo para que desse certo.
Eu sou uma mulher que sonha com os dois pés metidos em sapatos interessantes, mas com os saltos bem fincados ao chão.
E com tudo o que sou mudei os rumos da minha vida. E segui em frente. Com a vista para o mundo. Quanto às coisas que não mais fiz, olhei bem fundo uma derradeira vez. E fiz uma busca do pedaço do planeta onde acordei na manhã seguinte.

Parte I

Ontem, eu abri os armários e deixei o sol entrar. Numa das gavetas, encontrei as cartas que escrevi pra você, já estavam meio amareladas sabia. Aquelas cartas me encheram de saudade, uma saudade que não se explica, nem se contenta, de quando a gente jogava conversa fora e dentro e, de orgulho: Eu fui sua amiga. Tem uma música que diz que, no mundo, muitos sonhos ainda serão urdidos a partir da amizade. E serão com certeza. Você foi o amigo, que abriu meus olhos, meus braços e o meu coração. O presente mais importante que eu já ganhei. Você conseguiu interpretar a nova Suely em que eu me transformei. Saber que você está aí, mesmo sem procurá-lo mais, encoraja-me a seguir em frente.
Olhando aquelas cartas amareladas, agora iluminadas pelo sol que invadiu os armários, tive uma vontade enorme de te ligar só pra dizer que não deixei de te amar e, que a vida é bem melhor porque você existe. Comigo carrego as marcas indeléveis do que a gente viveu. Eu gostava de seus claros, e adorava acender a luz e iluminar seus escuros. “Suely, o ser humano, é aquela parte que é para você e que abriu uma porta que talvez ela nunca abra para outra pessoa. Uma amiga verdadeira e, tudo o que ela diz é a verdade e, ela ama você mesmo que o “odeie” em alguma outra coisa de seu coração.
A sua Amizade pra mim é o meu tema. Isso não é novidade. Me inspira. Me emociona. Me Lembra. Me Apóia. Me Alegra. Me Salva. Mesmo assim, longe. E por fazer parte da minha vida, nunca cansa. Amizade de verdade é isso. A gente ama sem notar que é amor.
Sócrates disse que para conseguir a amizade de uma pessoa digna é preciso desenvolver em nós mesmos as qualidades que admiramos nela.
Millôr Fernandes, em um de seus haicais, nos trouxe a dor da perda com “Passeio aflito/ Tantos amigos/ Já granito”.
Nietzsche escreveu que as mulheres podem tornar-se facilmente amigas de um homem, sendo que, para manter essa amizade, é indispensável o concurso de uma pequena empatia física.
A sabedoria popular diz que amigo a gente escolhe. Que amigo é herança, mas acima de tudo é conquista: “Quer brincar comigo?”
Para os extrovertidos e destemidos como eu conhecer pessoas é fácil e corriqueiro. Mas amigos, não.
Existem aqueles que cultivam amigos imaginários que nunca os abandona.
Nunca cheguei ao ponto de colocar o meu amigo imaginário sentado a mesa e, ainda servir prato ao meu companheiro invisível.
Mas conversei muito com bonecas, bichos, flores, com a mesa, cadeiras e até as paredes. Ah! Isso eu fiz, sim. Aliás, foi o que eu mais fiz depois de perceber o que tinha acontecido com a nossa amizade.
Vim aqui, mais uma vez, falar de amor e amizade porque fazendo isso me sinto humanamente humilde.
A partir do dia em que a gente se conheceu, eu sempre tive certeza de que, se eu tropeçasse em uma pedra ou me desequilibrasse na corda bamba, nunca deixaria de tê-lo de braços abertos para me salvar. E soube que no dia em que eu entrasse em pânico. Você entraria em ação. Sem que eu precisasse pedir nada.
Amizade de verdade é isso. A gente recebe alguma coisa sem pedir. A gente tem riqueza sem perceber. O roteiro da minha vida, hoje, não seria o mesmo sem você nele.
A sua amizade extrapola as relações sociais, eu já te disse isso, por ser o laço mais puro de afeto e confiança que me atrai para um núcleo de segurança e me afasta da solidão. Por todos os meus amigos, eu já fiz o que podia, porque, em minha opinião, amigo é para todas as horas, mas principalmente em que uma ajuda cai bem.
Se eu nunca precisasse de você e nunca tivesse a necessidade de tê-lo bem perto de mim; eu me assemelharia a esses instrumentos agradáveis que permanecem nos estojos, guardando consigo suas harmonias.
Ontem, senti um frio diferente. Tanto frio que só consegui ouvir o som dos meus pensamentos desesperados como companhia. Não quis saber de nada, nem de ninguém. Só me restou escrever.
É muito difícil guardar certas lembranças em uma caixa debaixo da cama. Eu tenho o seu exemplo de coragem nesse mundo.
Uma vez você me chamou de corajosa, mas o único ato que eu consigo ver como corajoso é o que eu to fazendo agora; te procurando hoje.

Parte II

A gente se conheceu e foi épico. Desde o começo, desprezo e exaspero seguidos de pausas silenciosas, quebradas por sussurros de desejos.
Eu poderia ter sido pra você aquela amiga legal, que fica pelos cantos comendo migalhas, fingindo aceitar as suas queixas, mas não, eu escolhi ser eu mesma. Ainda que eu me arriscasse a perdê-lo. Tudo o que eu fiz pra você foi repleto de dignidade. Tudo o que eu fiz pra você foi pensando em te fazer feliz. Você não é só meu amigo, você é o homem da minha vida. Você é a minha vida. E eu quero a minha vida de volta.
Ontem à noite, eu pensei em você, e chorei um choro genuíno, não o fiz propositalmente, chorei porque o processo pelo qual me tornei mulher foi um processo doloroso. Chorei por não ser mais criança. Chorei porque os meus olhos se abriram para esta realidade - para o seu egoísmo, para o seu amor por outra pessoa, para minha criatividade insaciável que não se preocupa com outra e consegue ser suficiente a si mesma. Chorei porque não posso mais acreditar e, adoro acreditar. Chorei porque daqui por diante chorarei menos. Chorei porque senti minha dor e ainda não estou acostumada à presença dela.
Contudo, só posso agradecê-lo. Porque graças a você, não estou sendo esmagada e não perdi a fé em mim.
Naquele dia infeliz, o último em nos falamos grosseiramente e por um canal impessoal, a dor ki eu senti foi tão grande. Uma parte de mim foi arrancada a solavancos. Foi a segunda maior dor que eu já senti.
Mas esse nó de dor sufocante desapareceu. Aceitei que a esperança cedesse à realidade. E aceitei isso racionalmente, não porque precisava aceitar, mas para seguir em frente.
Portanto, não me odeie. Não me despreze. Não me maltrate. Não me chantageie. Não me agrida. Não me machuque mais. Não mais. Você não tem motivos para isso.
Eu estou confessando tudo isso a você.
Eu jamais vou abandoná-lo, porque você me inspira para o bem e, para os meus sentidos. Você não está sozinho. Eu estou aqui bem pertinho de você, do seu lado.
Tenho pensado em você em momentos em que nenhuma mulher sã e normal deveria pensar.
O amor para mim é muito coerente, quando eu amo, eu amo pra sempre. Eu não estava blefando quando disse que o amaria até eu ficar velhinha, velhinha e a vida, enfim, me separasse de você. Parece um discurso romântico, mas não é. É real, e é para você. Não tenha medo dele, nem sinta escárnio dele, da mesma forma que eu
não tenho medo de sentir o amor que eu sinto por você. Porque eu amo de verdade. Eu não tenho medo do que você representa pra mim, porque você é um homem bom. E eu quero receber de você tudo o que você tem de melhor. Eu mereço isso.
Palavras e datas tem muito significado pra mim. Por isso achei desnecessário esperar o natal, o aniversário ou outra data seja ela qual for para fazer um balanço e falar o que é verdadeiramente essencial de mim para você.
Espero do fundo do meu coração que essas palavras não o tenham machucado, porque não foram pensadas para feri-lo. Mas sim para acariciá-lo com a ponta dos dedos. Foram escritas a fim de nos dá uma chance. Elas são como uma mão que alcança-e não um pé que esmaga. Porque a mão que alcança exige mais coragem, afinal, alcançar é sempre um risco-e esmagar tem um final previsível.
O dia de hoje é uma experiência radical de nascimento. A gente, no fundo, tem medo de nascer, pois nascer e saber-se vivo - e, como tal, estar exposto à morte. Superei esse medo quando lembrei a singularidade do seu olhar que é só seu. Percebi que você está em extinção, só existe uma pessoa igual a vc no mundo, vc mesmo. Percebi, também, com essa lembrança que amá-lo representa essa singularidade. E para alcançá-la em sua integridade, precisaria de muita coragem. Teria de resistir ao conforto de uma vida de lugar-comum. Que eu me sinto pronta para viver.
Não o tenho mais perto de mim e, por isso as minhas letras são mortas. São palavras que nasceram luminosas e morreram pela repetição, já que a morte de uma palavra é o seu esvaziamento de sentido. Agarrei-me aos lugares comuns. E matei-os um pouco a cada dia, matei a expressão de você, para mim, no mundo.
Tentei me apegar ao mundo das frases feitas, para não deixar que os meus sentimentos novos sobre você não saíssem de lá. Mas as frases feitas são apenas cascas de palavras-, não ameaçam a linguagem de ninguém - nem o funcionamento do todo - com as palavras mais subversivas e ameaçadoras para este mundo: as próprias.
Quando transformo meus pensamentos íntimos em palavras para você, tenho sempre a possibilidade de nascer. E se renuncio ao nascimento, ao trocar a possibilidade de lhe dizer o que sinto através de palavras, pelo silêncio, ao mundo das frases feitas, aceito a morte antes de viver.
Fiquei pensando nisso e, pareceu-me que os lugares – comuns vão muito além das palavras. A gente pode transformar nossa vida inteira. Não basta apenas pensar em você antes de escrever, na tentativa de criar algo seu – antes de repetir a vida de outros.
Do mesmo modo que é muito fácil botar no mundo o primeiro chavão, que para alguns, vem à cabeça; também é mais fácil – e mais aceito- porque a maioria vai vivendo e repetindo velhas vidas que aparentemente já deram certo e não incomodam ninguém. Não é ruim ou errado, não se trata disso. Porque não vivermos a vida que nos transforma desde sempre em alguém em extinção. Aquela que busca a singularidade do que é nosso. Aquela sujeita ao erro, ao imprevisto, ao descontrole. Ao novo.
Eu não estou tentando arrancar nada de ninguém. Apenas pergunto, suavemente: é bom ficar perto de mim? É boa a difícil alegria que cada centímetro do meu corpo se dispõe a proporcioná-lo em seu mais extraordinário sentido?
Amá-lo é fascinante. É consumir-se. É queimar os carvões do tempo que me constitui. É um garimpo que com incessante coragem eu permito que o gosto do seu ouro possa fulgir em meus lábios. Assim a minha vida não tem garantias. Tem vida.
Procurei-o de novo. Não pela convicção de um não, mas em busca de um possível sim. Porque eu precisava interromper o fluxo inexorável rumo a uma vida feita de uma sucessão de frases feitas.
Que encrenca boa essa minha procura por você representa.
Meu coração se apertou de amor pela grandeza de tê-lo de volta diante do parapeito do mundo
Isso tudo é um convite para tomarmos um vinho e falarmos sobre a vida. Mas um vinho que não dê dor de cabeça no dia seguinte.
A minha inquietação segue latejando, às vezes doendo muito – e me carregando para vários lugares, sempre usando qualquer pretexto para buscá-lo: uma palavra, um livro, um filme, uma pessoa, um esquecimento, uma solidão.
Qualquer pedaço de madeira em que eu possa me agarrar para não morrer afogada pelos meus comportamentos, para que a minha ânsia de vida me leve sempre a viver. Com todos os ganhos, perdas, dores, fomes que fazem parte da minha vida não escrita.
Eu não quero mais fazer parte da sua vida como um ser reduzido a um personagem a si mesmo, ainda que eu seja um bom personagem.
Foi até aqui que o meu delírio me trouxe, para ficar mais perto de você. Para poder nascer. E me descobrir viva. Radicalmente viva.

Aguardo ansiosamente a revisão do nosso encontro.

Suely Carvalho.