domingo, 23 de agosto de 2009

"É apenas um texto!"

-De onde você escreve tem vista?

-Eu vejo o horizonte.

-Então deve ser por isso que você não quer publicar os seus textos...

Foi assim que o Antônio, um amigo querido, engoliu minha resistência inicial em publicar estes textos. Eu cheia de receios, tentando explicar por que não ia dar, ele me sai com essa. Ao longo dos anos havia percebido que os que escrevem em local fechado gostam de mostrar suas coisas, e quem o faz olhando pro mundo guarda na gaveta. Pois, como se vê minha resistência encolheu, e não foi preciso tirar o horizonte ali da frente. Mas o fato é que, quando a cabeça encrenca e vem o boicote avisando que nunca mais vou ter uma idéia na vida, fecho a janela e pronto... As palavras vão chegando. Será que a beleza nos dispersa e nos põe bobos, a contemplá-la? Será que ela rouba a vaidade de querer se exibir pro outro? Será que a janela do Paulo Coelho dá pra lixeira pública? Não, não pode ser uma questão estética. É questão de visão, simplesmente. Feio ou bonito, de um empresário em ascensão ou de um universitário, tanto faz. Quando se escreve olhando o mundo nós não temos como negar que tudo foi tirado dali mesmo, e talvez por pudor não queiramos repetir para ele o que o mundo mesmo nos mostrou. Pode ser. Vejamos: Ataíde Junior - por que não? Kafka, Edgar Allan Poe? Nenhum era cego. Cego é aquele que não quer ver. Bom tem o Ray Charles, mas não que ele não quisesse, ele nunca pôde... Opa, ele é músico, fuga do tema!

Avaliando pelas entrelinhas, o cara que mora em ''zonas'' da vida vai aos sábados para baile funk, no Rio de Janeiro, claro; enquanto, em Manaus, o morador do Vieiralves, peraí nem precisa morar neste bairro, teoricamente, deveria ficar em casa se protegendo da violência, mas em Manaus isso não acontece - em Manaus o funk é da elite. Também, acontece. E o outro que acabou de construir uma bela piscina no jardim, três meses se passam, fim da novidade, ele se manda pro interior. Também rola, requinte de rico é casa de pescador em sítio deserto com luz de lampião.

Você prefere assistir a uma peça em um grande teatro ou no teatrinho da esquina? Se for ao da esquina e você estiver disposto mesmo a vê-la, saiba que seu ator deu pra fazer espetáculos em micro casas. Com o mundo aos expectadores pés, ele prefere, agora, encantar a minoria da minoria. Ele e outros deuses também.

No quesito sexo, sempre indispensável em considerações com estas, aquela transa escondidinha no quarto dos fundos é menos excitante que a da suíte confortável? Acho que não. Acho até que tem gente ralando pra conquistar esse tal conforto, que depois fica ali esparramado e tenso gastando neurônio em papo cabeça, enquanto os da ''caminha'' sobrepõem o desejo em baixas fantasias de alta voltagem.

Será?

Será que é mesmo assim? Será que enquanto minhas possibilidades aumentam o encanto retrai? E as idéias encurtam? Será que o horizonte me leva pra dentro de mim? Será que me mudo pro outro lado da cidade? Será que ele volta se eu o trocar por um total flex? Será que o Luís Fernando Veríssimo e seus ''... Bons dias sussurrados'' tem tantos serás? Será que consigo uma última frase que responda a tantas perguntas?

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