quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Parte I

Ontem, eu abri os armários e deixei o sol entrar. Numa das gavetas, encontrei as cartas que escrevi pra você, já estavam meio amareladas sabia. Aquelas cartas me encheram de saudade, uma saudade que não se explica, nem se contenta, de quando a gente jogava conversa fora e dentro e, de orgulho: Eu fui sua amiga. Tem uma música que diz que, no mundo, muitos sonhos ainda serão urdidos a partir da amizade. E serão com certeza. Você foi o amigo, que abriu meus olhos, meus braços e o meu coração. O presente mais importante que eu já ganhei. Você conseguiu interpretar a nova Suely em que eu me transformei. Saber que você está aí, mesmo sem procurá-lo mais, encoraja-me a seguir em frente.
Olhando aquelas cartas amareladas, agora iluminadas pelo sol que invadiu os armários, tive uma vontade enorme de te ligar só pra dizer que não deixei de te amar e, que a vida é bem melhor porque você existe. Comigo carrego as marcas indeléveis do que a gente viveu. Eu gostava de seus claros, e adorava acender a luz e iluminar seus escuros. “Suely, o ser humano, é aquela parte que é para você e que abriu uma porta que talvez ela nunca abra para outra pessoa. Uma amiga verdadeira e, tudo o que ela diz é a verdade e, ela ama você mesmo que o “odeie” em alguma outra coisa de seu coração.
A sua Amizade pra mim é o meu tema. Isso não é novidade. Me inspira. Me emociona. Me Lembra. Me Apóia. Me Alegra. Me Salva. Mesmo assim, longe. E por fazer parte da minha vida, nunca cansa. Amizade de verdade é isso. A gente ama sem notar que é amor.
Sócrates disse que para conseguir a amizade de uma pessoa digna é preciso desenvolver em nós mesmos as qualidades que admiramos nela.
Millôr Fernandes, em um de seus haicais, nos trouxe a dor da perda com “Passeio aflito/ Tantos amigos/ Já granito”.
Nietzsche escreveu que as mulheres podem tornar-se facilmente amigas de um homem, sendo que, para manter essa amizade, é indispensável o concurso de uma pequena empatia física.
A sabedoria popular diz que amigo a gente escolhe. Que amigo é herança, mas acima de tudo é conquista: “Quer brincar comigo?”
Para os extrovertidos e destemidos como eu conhecer pessoas é fácil e corriqueiro. Mas amigos, não.
Existem aqueles que cultivam amigos imaginários que nunca os abandona.
Nunca cheguei ao ponto de colocar o meu amigo imaginário sentado a mesa e, ainda servir prato ao meu companheiro invisível.
Mas conversei muito com bonecas, bichos, flores, com a mesa, cadeiras e até as paredes. Ah! Isso eu fiz, sim. Aliás, foi o que eu mais fiz depois de perceber o que tinha acontecido com a nossa amizade.
Vim aqui, mais uma vez, falar de amor e amizade porque fazendo isso me sinto humanamente humilde.
A partir do dia em que a gente se conheceu, eu sempre tive certeza de que, se eu tropeçasse em uma pedra ou me desequilibrasse na corda bamba, nunca deixaria de tê-lo de braços abertos para me salvar. E soube que no dia em que eu entrasse em pânico. Você entraria em ação. Sem que eu precisasse pedir nada.
Amizade de verdade é isso. A gente recebe alguma coisa sem pedir. A gente tem riqueza sem perceber. O roteiro da minha vida, hoje, não seria o mesmo sem você nele.
A sua amizade extrapola as relações sociais, eu já te disse isso, por ser o laço mais puro de afeto e confiança que me atrai para um núcleo de segurança e me afasta da solidão. Por todos os meus amigos, eu já fiz o que podia, porque, em minha opinião, amigo é para todas as horas, mas principalmente em que uma ajuda cai bem.
Se eu nunca precisasse de você e nunca tivesse a necessidade de tê-lo bem perto de mim; eu me assemelharia a esses instrumentos agradáveis que permanecem nos estojos, guardando consigo suas harmonias.
Ontem, senti um frio diferente. Tanto frio que só consegui ouvir o som dos meus pensamentos desesperados como companhia. Não quis saber de nada, nem de ninguém. Só me restou escrever.
É muito difícil guardar certas lembranças em uma caixa debaixo da cama. Eu tenho o seu exemplo de coragem nesse mundo.
Uma vez você me chamou de corajosa, mas o único ato que eu consigo ver como corajoso é o que eu to fazendo agora; te procurando hoje.

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